sábado, 3 de março de 2012

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EMO

Elenco:
Limão, 16 anos.

Bruh, 13 anos.
Senhorita Panda, 14 anos.
Fruta, 16 anos.
Senhorita Milly, 20 anos.
Roger, 18 anos.
Wel, 17 anos.
Uvinha, 17 anos.

Cazzo – O que é preciso pra eu ser um EMO? O que devo vestir?

Senhorita Panda – Ah, franja também.

Cazzo – Vocês são tristes?

Uvinha – Olha só, cada um tem seu momento, né? Eu sou bem alegre.

Limão – Se a gente tiver triste a gente vai chorar e pronto. A gente é melancólico.

Bruh – É.

Wel

Fruta – Não. É coisa de momento.

Wel – Depende de cada pessoa. Eu não sou triste. Quer dizer, mais ou menos.

Roger – Não. Somos melancólicos. Tristeza é coisa mais profunda.


Limão

Cazzo – Agora isso que você tem aí pintado nos rosto?

Roger – Cada maquiagem tem um significado. Isso aqui representa melancolia, depressão.

Cazzo - Você é depressivo?

Roger – Não. Talvez.

Cazzo – Quais os motivos?


Roger – São motivos gerais. O que rola no mundo não tá satisfazendo as pessoas. É violência, criminalidade, tráfico de drogas... isso influencia muito na minha vida.

Senhorita Milly – É muito triste o que tá acontecendo hoje em dia no mundo, nos deixa abatido.

Senhorita Panda


Roger – Fica um sentimento de frustração.

Cazzo – Melancólico não significa tristeza, né?

Bruh – É.

Cazzo – Vocês já foram agredidos na rua?

Limão – Eu já fui quase.

Fruta – Não, não.

Wel – Eu já fui agredido. É chato, na escola, na rua, ficam me zoando. Teve um grupo de pagodeiros que me empurrou, me bateu, jogou minhas coisas no chão, isso foi na rua, na escola também... tem gente que não gosta de mim, e me pegam, me batem...

Uvinha – Eu já agredi um metaleiro. Eu tava no Beco dos Artistas, tinha uma galera lá que começou a me discriminar e a um amigo meu que era gótico. Começaram a procurar brigar, eu chamei pra brigar lá fora, pra eu não me queimar no Beco. Pronto, chegou lá fora bati nele e ele começou a chorar. Quem parecia o EMO? Ele, né?

Senhorita Milly


Cazzo – E como é que você fica, Wel? Fica por isso mesmo, você revida? Você chora?

Wel – Eu não choro. Simplesmente não tenho o que fazer. Só apanho. Porque geralmente vem um grupo grande.

Senhorita Panda – Ah, teve uma vez que a gente passou por uns metaleiros, eles ficaram apontando pra gente, porque eles dizem que o EMO CORE não é rock.

Limão – Mas o EMO CORE é antigo, é porque tá chegando agora, aparecendo, mas é coisa que tem mais de 15, 20 anos.


Roger – Olha só, o EMO CORE surge de uma ramificação do punk e do hard core. 

Fruta – Só agora que tá aparecendo.

Cazzo – Vocês lembram muito o jeito do The Cure, que é uma banda dos anos 80. Quais outras referências vocês têm?

Senhorita Panda – Tem Beatles.

Cazzo – Beatles?


Fruta – Eu gosto de Beatles. 

Bruh – É.

Cazzo – Então, se vocês não são tristes, eu não posso considerar vocês suicidas em potencial?

Fruta – Não, não. Imagina! Eu mesma nunca fui depressiva. As pessoas falam demais. Porque uma pessoa que é assim e aí vai já julga as outras.

Roger – Suicídio não. Eu diria que o suicídio não resolve problema nenhum.

Roger


Cazzo – De que forma vocês acham que podem mudar o mundo? Ou vocês ficam parados o tempo todo? 

Roger – A musicalidade é uma arma. É uma forma de as pessoas repensarem.

Cazzo – E em casa, como é a relação?

Senhorita Milly – Em casa é normal. Ah, eu sou muito reprimida em casa. Minha mãe não aceita por causa do estilo, acha muito estranho, também porque tem muito homossexualismo...

Uvinha – Minha mãe não aceita, mas não opina. 

Roger – Minha mãe critica muito meu visual e a música que eu ouço. 

Wel – O pessoal aceita. Acham que é coisa de adolescente...

Limão – Minha mãe respeita. Não gosta, mas respeita.

Fruta

Senhorita Panda – Minha mãe fala mais quando eu uso franja...

Cazzo – E a relação de vocês com as drogas?

Todos juntos – NENHUMA! NADA!

Fruta – As pessoas falam, acham que a gente usa.

Limão – As pessoas vêem a gente assim de preto aí acham que se fizeram alguma coisa é porque é EMO. Mas não é assim...

Uvinha – Pra mim só cigarro e mulher.

Cazzo – As pessoas naturalmente pensam que você é viado, né?

Limão – É...

Fruta – Mas não é a roupa ou o estilo que vai dizer a sexualidade da pessoa.

Limão – Tem uma característica que é do EMO: deixar os outros falarem. Deixa falarem.

Bruh – É.


Senhorita Panda – Se a gente for se importar com o que os outros falam a gente não vive, né?
Bruh


Cazzo – Há muita cumplicidade entre vocês. Essa coisa da amizade é muito forte. Eu já vi dois rapazes de mãos dadas na rua. Como é isso?

Fruta – Nós somos muito sensíveis, carinhosos...

Cazzo – Vocês não xingam, não?

Senhorita Panda – Ah, claro!

Fruta – Sim, claro. A gente xinga...

Bruh – É.

Cazzo – Eu já ia xingar aqui: “Que poxa! Banana!”

Todos – hahahahahahahahahahahahahaha

Cazzo – E sexo?

Limão – A gente acha normal. Temos amigos gays, lésbicas, bissexuais.

Fruta – É normal.

Uvinha – Eu sou lésbica. Eu já era antes de ser EMO. Desde os doze anos...

Cazzo – Mas eu digo quanto ao sexo em si.

Roger – Acho que pra uma pessoa entrar na minha intimidade tem que ter algo a mais, tem que ter a química... 

Senhorita Milly – Tem que ter amor, tem que ter carinho, não pode ser uma brincadeira, porque pra mim é uma coisa muito séria.

Wel – Normal. Não sou homossexual. Eu gosto muito de me expressar. Sexo tem que ser com amor, só com amor. 

Limão – Às vezes tem gay que se utiliza ser EMO pra poder assumir a sexualidade. Às vezes nem são EMO’s. 

Fruta – É porque a gente tem uma certa abertura ... não rola muito preconceito.


Uvinha


Cazzo – Qual o ponto de transgressão do EMO?

Limão – ...

Bruh – ...


Roger – O EMO busca mostrar a realidade do mundo de forma mais suave, ao contrário do punk.

Senhorita Milly – O punk é mais revolucionista. 

Bruh – É.

Cazzo – Referência política vocês têm?

Fruta – Não, não...

Roger – Nós somos uma ramificação bem suave do punk. Claro que a ausência de poder é uma coisa bem caótica...

Uvinha – Eu quero que a política se foda. Eu sou eu mesma, mando todo mundo tomar no cu, saio pra zoar, ando com minha galera... 

Cazzo – Referências literárias?

Fruta – Eu leio. Eu leio Paulo Coelho. Eu gosto muito de psicologia e filosofia. 

Uvinha – Eu leio história do hard core, do EMO CORE, leio livros comuns, Bíblia... 

Wel – Eu gosto de Harry Potter.

Senhorita Panda – Eu leio as plaquinhas de ônibus.

Todos (até eu) – hahahahahahahhahahahahahaha

Cazzo – Vocês acham que daqui a cinco anos vocês vão continuar sendo EMO’s?

Wel – Nunca pensei nisso, não. Não sei. 

Limão – Talvez a gente possa curtir, mas talvez a gente não possa mais se vestir desse jeito aqui, porque a gente vai trabalhar...

Roger – Sim, com certeza.

Senhorita Milly – Com certeza. Uma vez EMO, sempre EMO!

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